'Certamente a criatura mais injustiçada na historia do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma Maldição. E quanto mais vejo o lance mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera’. Armando Nogueira finado jornalista esportivo.
16 de julho de 1950. Estádio do Maracanã o maior do mundo na época. Final da tão esperada Copa do Mundo no Brasil, após 10 anos sem competição, devido a Segunda Guerra Mundial. O mundo precisava disso. O Brasil precisava disso. A paixão do brasileiro por futebol era muito forte (incentivada por Getúlio Vargas que acreditava que o esporte era uma extensão da Cultura e da educação). A taça estava no papo Tínhamos o melhor goleiro da época Moacir Barbosa Nascimento jogador do Vasco. Todos esperavam por ele.
Brasil embalado pela torcida - quase 200 mil pessoas estavam no estádio - abriu o placar aos 47 minutos com gol de Fraça. No segundo tempo o uruguaio Schiaffino empatou o jogo apimentado. O empate daria o título pra gente ate que aos 79 minutos nosso goleiro elástico e cheio de desenvoltura falhou. Ghiggia recebeu a bola fingiu que ia lançar para outro companheiro e chutou no canto esquerdo do gol. Barbosa errou. Ele nunca tinha errado. Milhões de brasileiros esperançosos choraram a perda de nossa primeira copa em casa. Essa partida é considerada uma das maiores decepções da historia do futebol brasileiro. Barbosa sabia disso, coitado. Foi feito de bode expiatório e acusado corno o culpado pela derrota por décadas. A cada partida entre Brasil e Uruguai (como hoje, pela copa das confederações no Brasil) Barbosa será lembrado.
É difícil lembrar de trauma maior na história fo futebol brasileiro. Esta história é muito conhecida. A pessoa que vos escreve tem 23 anos e se lembra de tudo. Depois que você ler o livro do jornalista e escritor Robert Muylaert, testemunha ocular da final de 1950, vai parecer que foi ontem. Mas não foi.
Quarenta anos após a tarde fatídica, o jornalista procurou Barbosa para dar sua versão dos aos fatos. O relato extenso, vinte horas de conversas registradas sobre noventa minutos de um único jogo, registrado no livro Barbosa: um gol silencia o Brasil, oferece uma visão multifacetada da partida, um verdadeiro drama, como se carregasse uma câmera que registra cada ângulo, cada lance, de cada lado: brasileiro, uruguaio, da torcida, da sociedade. A obra recoloca o goleiro na posição que sempre foi dele, além do gol no panteão dos melhores goleiros da história do futebol.
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“Meu coração apertado prenunciava que a coisa seria mais séria, que aquela partida final se transformaria em tragédia grega com o passar dos anos”
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O Jogador fez de tudo para fugir desse pesadelo. Em 1963 usou as mesmas traves de madeira do Maracanã como Brasileiro para churrasco. Nos anos 90, se mudou do Rio de Janeiro para evitar perguntas e críticas sobre a final.
O livro também nos da um vislumbre do que aconteceu antes e depois dos 90 minutos mais sofridos do futebol nacional, nos remonta a situação política do Brasil e do mundo na época e, acima de tudo traz para a Geração Nevmar o relato da carreira vitoriosa de Barbosa, eterno campeão pelo Vasco da Gama, querido pela torcida carioca e nacional. Em suma, o livro Barbosa é uma tentativa de cicatrizar a ferida aberta na primeira Copa do Mundo sediada pelo Brasil.
Assista ao curta metragem Barbosa (com António Fagundes no elenco), de 1988 que conta a historia de um homem que consegue voltar no tempo e tenta evitar o segundo gol do uruguaio:
Texto publicado originalmente por mim no blog do iba, no dia 26 de junho de 2013.
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